Com a boca e os pés, artistas dão as suas pinceladas rumo ao sucesso, criando verdadeiras obras de arte
Pintores dizem que expressam em suas obras aquilo
que sentem, imaginam e sonham. As telas dessa reportagem representam mais do que
sensações, elas são o retorno da autoestima de artistas que pincelam o mundo com
os pés e a boca. Para aprimorar o dom, os pintores contam com o apoio da
Associação dos Pintores com a Boca e os Pés (APBP), instalada na cidade de São
Paulo, e responsável por reabilitar pessoas com deficiência por meio da arte.
Fundada em 1956 em Liechtenstein (microestado entre Áustria e Suíça), por Erich
Stegmann, a Associação colabora há mais de 50 anos para a independência dos
pintores que, não fazem uso das mãos. Hoje, são mais de 700 artistas em mais de
70 países, sendo que 46 deles estão no Brasil.
Ainda criança,
brincando nas ruas de Novo Horizonte, interior de São Paulo, Gonçalo Borges -
que nasceu com paralisia nos braços - traçou os seus primeiros desenhos. "Eu
brincava de fazer rabiscos no chão desde os sete anos", conta. Nessa mesma
idade, Daniel Rodrigo Silva esboçou as primeiras pinturas com canetas coloridas
e papel sulfite. O garoto tem síndrome da Talidomida, uma substância que se
usada durante a gravidez, causa má-formação ou ausência de membros. "Comecei em
casa e depois na escola, nas aulas de educação artística, descobri que eu
gostava mesmo de pintar", diz. Um pequeno pedaço de madeira no chão foi o
primeiro material de trabalho usado por Moacir Ferraz, de Buritama, São Paulo.
Com uma disfunção congênita cerebral pós-parto, iniciou a arte aos cinco anos
desenhando no chão de terra com pedaços de madeira.
O amor que Daniela Caburro despertou pelas imagens surgiu ao assistir televisão. A garota, que teve poliomielite aos oito anos e ficou tetraplégica, conheceu a artista Mara Toledo e a partir daí passou a pintar telas em São Carlos (SP). Jornalista, Simony Garcia já fazia quadros aos 12 anos, dotada de muito talento, passou a dar aulas de pintura, que precisaram ser interrompidas pela atribulada rotina da profissão. Após um grave acidente de carro, em 2000, Simony ficou tetraplégica. Naquele momento, os médicos perguntaram o que gostaria de continuar fazendo, e ela respondeu: "Pintar". A terapia ocupacional foi o que estimulou Eliana Zagui a traçar os primeiros desenhos com a boca. Aos dois anos, ela teve poliomielite e ficou paralisada do pescoço para baixo. Hoje, vive no Hospital das Clínicas em São Paulo. "Comecei a pintar com canetinhas em um caderno, até chegar à madeira. Em 1996, passei a pintar na tela", conta.
O amor que Daniela Caburro despertou pelas imagens surgiu ao assistir televisão. A garota, que teve poliomielite aos oito anos e ficou tetraplégica, conheceu a artista Mara Toledo e a partir daí passou a pintar telas em São Carlos (SP). Jornalista, Simony Garcia já fazia quadros aos 12 anos, dotada de muito talento, passou a dar aulas de pintura, que precisaram ser interrompidas pela atribulada rotina da profissão. Após um grave acidente de carro, em 2000, Simony ficou tetraplégica. Naquele momento, os médicos perguntaram o que gostaria de continuar fazendo, e ela respondeu: "Pintar". A terapia ocupacional foi o que estimulou Eliana Zagui a traçar os primeiros desenhos com a boca. Aos dois anos, ela teve poliomielite e ficou paralisada do pescoço para baixo. Hoje, vive no Hospital das Clínicas em São Paulo. "Comecei a pintar com canetinhas em um caderno, até chegar à madeira. Em 1996, passei a pintar na tela", conta.
Moacir Ferraz se
sentiu realizado ao expor as suas obrasEstudos e trabalho em função da pinturaO
talento para a pintura transformou a vida dessas pessoas. Com emoção, elas
descrevem os primeiros passos de sua carreira e a forma como reencontraram a
felicidade ao criar as suas obras e vê-las expostas em galerias ou percorrendo o
mundo. A APBP não só ensina a arte, como também a divulga de forma séria e
oferece bolsas aos mais talentosos. Todos os artistas, antes de participar da
associação, precisam enviar ví deos, fotos e os próprios quadros para provar que
eles mesmos desenvolvem o trabalho. O material coletado é analisado e enviado
para avaliação na Suíça, lá será decidido se a pessoa será bolsista ou não.
Bolsistas são artistas, em formação que recebem um valor mensal e fecham
contratos renovados e reavaliados a cada três anos. Além disso, será avaliado se
o membro tem qualidade artística superior, isso porque não basta pintar, precisa
ter talento. O pintor Daniel Rodrigo Silva mostrou ter o dom. "Ganhei o terceiro
lugar em um concurso com mais de 300 artistas, foi muito gratificante", conta o
reconhecido membro da APBP. Logo que o pintor é aceito, ele assina o contrato e
ganha independência para criar, comprar material adequado e participar de
cursos. Seus quadros chegam a ser reproduzidos em cartões e calendários. "A APBP
dá a oportunidade de uma vida digna, mais construtiva de trabalho, estudos e
esforço pessoal", afirma a gerente da APBP, Mariana Marconi. "Fiz alguns testes
e com 17 anos fui integrado. A arte é a minha profissão, tudo o que tenho -
estudos, trabalho - é em função dela", diz o artista Gonçalo Borges, diplomado
na Faculdade de Belas Artes. Como a pintura já fazia parte da vida de Simony
antes de sofrer o acidente, o sentimento pós-trauma era refletido nos quadros.
"Na época, pintava com cores escuras, em razão do acidente. O medo ainda estava
muito presente". Hoje, a situação é diferente. "Prefiro pintar flores, elas
representam a vida", conclui.Imensurável é a sensação que a artista Daniela
Caburro sente quando está em seu ateliê. "Tenho 100% de liberdade, a gente se
transporta para o tema. Ao desenhar cavalos, por exemplo, sinto que estou
cavalgando, movimento que na vida real não existe mais", comenta. Essa liberdade
e a sensação de agitação se mostram presentes na reação de cada pintor. "Vivo a
liberdade ao pintar, posso ir para onde eu quiser", fala Eliana Zagui. A
concentração e a relação entre o artista e a obra são constantes, é como a
realização de sonhos. "Naquele momento sou eu, a tela e uma música para relaxar.
Posso trabalhar em um quadro por horas ou meses", revela Daniel Rodrigo
Silva.
Mostra de
talentos Afinal, qual a sensação de ver uma obra de sua autoria exposta? "Quando
vi meu quadro na mostra, me senti realizado profissionalmente", diz Moacir
Ferraz. É o mesmo que ver o sonho, a imaginação e a realidade, tudo em um só
lugar repleto de cores e formas. No ano de 2009, alguns destes artistas
estiveram em Buenos Aires para um workshop de pintura, lá eles tiveram os
quadros expostos no museu. "A sensação de ter seu trabalho visto em outro país é
maravilhosa, nem encontro palavras para descrever", se emociona Daniela. A
exposição integrou o conjunto de ações de divulgação do trabalho destes
artistas, que continuam fazendo arte por onde passam.